- Tens dores?
- Não. Obrigado por perguntares.
A resposta é sempre negativa à pergunta dos meninos e sempre dada com um sorriso. As dores nunca existem quando a pergunta me é feita. Nego a evidência para que não haja preocupação dos meus filhos. Só o mais velho não se deixa enganar.
É assim que tenho vivido estes dois meses, com um sorriso.
Pensei nada escrever porque podia ser mal interpretado mas entendi ser dever e testemunho para fora.
De que valeria fazer de coitadinho e lamechas? Para obter pena ou consolo?
Bah! Não é essa a massa de que sou feito. Nem eu nem os cristãos.
Temos arcaboiço para muito mais. Venham elas!
Por outro lado e muito importante, por que não devo sorrir se tenho uma família assim? Quem tem família não pode ter razões para não sorrir mesmo que a vida, por instantes, seja mais difícil.
É tão bom sentir a genuína preocupação dos miúdos e a genuína vontade de lhes fazer dissipar qualquer preocupação. Eis o amor.
Simultaneamente é tão gostoso sentirmos o amor, a preocupação e a enorme dedicação do nosso amado cônjuge. Uma família assim é um porto de abrigo assente em rochas firmes que não nos permitem vacilar ou ser medíocres quando algo não corre tão bem quanto gostaríamos.
O problema terá de ser solucionado e resolvido. Até lá, devo aproveitar todos os "ais" e fazer deles um significado. Como? Oferecendo.
A debilidade momentânea pode, deve e é aproveitada por algo maior. Três são as intenções que ficam à guarda destas benditas dores. Sem elas, teria mais dificuldade em encontrar uma mortificação "como deve ser" para oferecer. Assim, Deus facilita-me a vida.
Tenho a confiança de acreditar cegamente de que se passo o que passo é porque Deus o permite e pretende que daqui brotem coisas bonitas.
Há uns anos atrás ofereci uma cirurgia pela cura de um amigo. Nunca lhe disse ou se disse ele não terá ligado patavina, porque não entende estas coisas que nós, cristãos, entendemos. Está curado. Tenho certeza que a minha cirurgia terá dado algo (ainda que pouco) ao Sérgio. Deus saberá o quanto.
Nesta situação actual, quando as dores começaram ser mais fortes e menos toleradas, pedi a intervenção de Montse Grases. Todos as causas têm uma causa. Como tal, dei-lhe o meu problema. Passaram alguns meses e a situação agravou. A nossa queridíssima, a Venerável Montse, não quis agarrar a minha cura. Provavelmente Deus terá para ela algo que valha a pena, algures por aí, no tempo que entender oportuno.
Perante a ausência da Montse - confesso que quis muito ser o seu caso rumo à beatificação - procurei humildemente compreender que Deus me queria dar algo diferente. Neste trajecto deu-me a amizade de um médico que me tem ajudado tanto que lhe dedico algumas mortificações (ele não sabe...) para ser um grande santo. E vai sê-lo. O que por mim tem feito não tem preço e o Senhor sabe-o.
No Carmelo de Fátima, encontro igualmente uma enorme rectaguarda. É a minha tropa de choque que não deixa que nada de mal me aconteça e aos meus amigos, quando por eles peço orações. Sempre foi assim. Amo-as muito.
Outros amigos, irmãos em Cristo, telefonam e preocupam-se. Com as suas orações têm sido uma grande ajuda.
Também alguns familiares têm estado comigo quando se manifestam preocupados. É muito bom sentir esse calor.
Também alguns familiares têm estado comigo quando se manifestam preocupados. É muito bom sentir esse calor.
Deus não me deu a Montse, mas deu-me muitas e muitos futuros "montses" que me têm aquecido o coração com as suas preocupações e orações.
Findo. Não tenho nada de especial (é super corriqueiro) mas acaba por ser aborrecido e traz-me dores e dificuldades motoras. O segredo de viver bem o momento é sorrir e ter bom humor e para sorrir há que viver a situação sobrenaturalmente. E é isso que quero testemunhar para fora. Saber viver os problemas é o caminho. Nunca foi um caminho.
“Faça-se, cumpra-se, seja louvada e eternamente glorificada a justíssima e amabilíssima Vontade de Deus sobre todas as coisas. Amén. Amén." - Josemaria Escriva.
P.S. - acabo de escrever o texto e o meu amor trouxe-me um café e um bolo. Como seria possível não sorrir com uma família assim?
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