Homilia do Santo Padre, o Papa Francisco
(fonte: acidigital)
«Apareceu no Céu (…) uma mulher revestida de
sol»: atesta o vidente de Patmos no Apocalipse (12, 1), anotando ainda que ela
«estava para ser mãe». Depois ouvimos, no Evangelho, Jesus dizer ao discípulo:
«Eis a tua Mãe» (Jo 19, 26-27). Temos Mãe!
Uma «Senhora tão bonita»: comentavam entre si os videntes de Fátima a caminho de casa, naquele abençoado dia treze de maio de há cem anos atrás. E, à noite, a Jacinta não se conteve e desvendou o segredo à mãe: «Hoje vi Nossa Senhora». Tinham visto a Mãe do Céu. Pela esteira que seguiam os seus olhos, se alongou o olhar de muitos, mas… estes não A viram.
A Virgem Mãe não veio aqui, para que A víssemos; para isso teremos a eternidade inteira, naturalmente se formos para o Céu.
Uma «Senhora tão bonita»: comentavam entre si os videntes de Fátima a caminho de casa, naquele abençoado dia treze de maio de há cem anos atrás. E, à noite, a Jacinta não se conteve e desvendou o segredo à mãe: «Hoje vi Nossa Senhora». Tinham visto a Mãe do Céu. Pela esteira que seguiam os seus olhos, se alongou o olhar de muitos, mas… estes não A viram.
A Virgem Mãe não veio aqui, para que A víssemos; para isso teremos a eternidade inteira, naturalmente se formos para o Céu.
Mas Ela, antevendo e
advertindo-nos para o risco do Inferno onde leva a vida –
tantas vezes proposta e imposta – sem-Deus e profanando Deus nas suas
criaturas, veio lembrar-nos a Luz de Deus que nos habita e cobre, pois, como
ouvíamos na Primeira Leitura, «o filho foi levado para junto de Deus» (Ap 12,
5). E, no dizer de Lúcia, os três privilegiados ficavam dentro da Luz de Deus
que irradiava de Nossa Senhora. Envolvia-os no manto de Luz que Deus Lhe dera.
No crer e sentir de muitos peregrinos, se não mesmo de todos, Fátima é
sobretudo este manto de Luz que nos cobre, aqui como em qualquer outro lugar da
Terra quando nos refugiamos sob a proteção da Virgem Mãe para Lhe pedir, como
ensina a Salve Rainha, «mostrai-nos Jesus».
Queridos peregrinos, temos Mãe. Agarrados a Ela como filhos, vivamos da
esperança que assenta em Jesus, pois, como ouvíamos na Segunda Leitura,
«aqueles que recebem com abundância a graça e o dom da justiça reinarão na vida
por meio de um só, Jesus Cristo» (Rm 5, 17). Quando Jesus subiu ao Céu, levou
para junto do Pai celeste a humanidade – a nossa humanidade – que tinha
assumido no seio da Virgem Mãe, e nunca mais a largará. Como uma âncora,
fundeemos a nossa esperança nessa humanidade colocada nos Céus à direita do Pai
(cf. Ef 2, 6). Seja esta esperança a alavanca da vida de todos nós! Uma
esperança que nos sustente sempre, até ao último respiro.
Com esta esperança, nos congregamos aqui para agradecer as bênçãos sem
conta que o Céu concedeu nestes cem anos, passados sob o referido manto de Luz
que Nossa Senhora, a partir deste esperançoso Portugal, estendeu sobre os
quatro cantos da Terra. Como exemplo, temos diante dos olhos São Francisco
Marto e Santa Jacinta, a quem a Virgem Maria introduziu no mar imenso da Luz de Deus e aí os levou a
adorá-Lo. Daqui lhes vinha a força para superar contrariedades e sofrimentos. A
presença divina tornou-se constante nas suas vidas, como se manifesta
claramente na súplica instante pelos pecadores e no desejo permanente de estar
junto a «Jesus Escondido» no Sacrário.
Nas suas Memórias (III, n. 6), a Irmã Lúcia dá a palavra à Jacinta que
beneficiara duma visão: «Não vês tanta estrada, tantos caminhos e campos cheios
de gente, a chorar com fome, e não tem nada para comer? E o Santo Padre numa Igreja,
diante do Imaculado Coração de Maria, a rezar? E tanta gente a rezar com ele?»
Irmãos e irmãs, obrigado por me acompanhardes! Não podia deixar de vir aqui
venerar a Virgem Mãe e confiar-lhe os seus filhos e filhas. Sob o seu manto,
não se perdem; dos seus braços, virá a esperança e a paz que necessitam e que
suplico para todos os meus irmãos no Baptismo e
em humanidade, de modo especial para os doentes e pessoas com deficiência, os
presos e desempregados, os pobres e abandonados. Queridos irmãos, rezamos a
Deus com a esperança de que nos escutem os homens; e dirigimo-nos aos homens
com a certeza de que nos vale Deus.
Pois Ele criou-nos como uma esperança para os
outros, uma esperança real e realizável segundo o estado de vida de cada um. Ao
«pedir» e «exigir» o cumprimento dos nossos deveres de estado (carta da Irmã Lúcia,
28/II/1943), o Céu desencadeia aqui uma verdadeira mobilização geral contra
esta indiferença que nos gela o coração e agrava a miopia do olhar. Não
queiramos ser uma esperança abortada! A vida só pode sobreviver graças à
generosidade de outra vida. «Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer,
fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto» (Jo 12, 24): disse e fez o Senhor,
que sempre nos precede. Quando passamos através dalguma cruz, Ele já passou
antes. Assim, não subimos à cruz para encontrar Jesus; mas foi Ele que Se
humilhou e desceu até à cruz para nos encontrar a nós e, em nós, vencer as
trevas do mal e trazer-nos para a Luz.
Sob
a proteção de Maria, sejamos, no mundo, sentinelas da madrugada que sabem
contemplar o verdadeiro rosto de Jesus Salvador, aquele que brilha na Páscoa, e
descobrir novamente o rosto jovem e belo da Igreja, que brilha quando é
missionária, acolhedora, livre, fiel, pobre de meios e rica no amor.
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